“A Coroa da Dor”

2 hours agoAria s1
[Intro] [Invocação I – sussurrada] Ó noite sem aurora, ouvi. Ó cinza do mundo, calai. Ó vento antigo, guardai o fado, Ó terra negra, lembrai. [Invocação II – eco ritual] Lembrai… lembrai… Do nome tomado ao pó. [Verso I] Sob lua morta chorou o infante, Onde o lar caiu sob ferro errante. Três völvas antigas, de verbo e osso, Tomaram-lhe o nome no fogo e no poço. Selaram-lhe o fado em runa e dor, Marcaram-lhe a carne, calaram-lhe o choro. [Verso II] Veio o clã do saque, levou pão e chão, Quebrou-lhe o teto, sangrou-lhe a mão. Deixou-lhe o sangue e a maldição, Cinza no peito, ódio em oração. Mas no cerne ficou, ardendo em nó, A chama que os deuses não tomam só. [Refrão Ritual – repetitivo / crescente] Filho do ermo, do gelo e do pó, Pelo dente e pela garra foi feito nó. Da perda, lâmina. Da dor, lei. Do nada, senhor. Do pranto, rei. Filho do ermo… Do pranto… rei… [Verso III] A neve foi pai, a fera foi guia, O uivo noturno lhe deu vigia. Bebeu da sombra, dormiu no chão, Fez do silêncio sua oração. No rito do ermo, morreu o infans, Caiu o menino — ergueu-se o clã. [Ponte Litúrgica – lenta] Não teme a morte. Não chama por lar. Seu nome é vento, Seu sangue é altar. [Refrão Final – solene] Filho do ermo, do gelo e do pó, Forjado em perda, selado em nó. Da dor fez trono, da fúria, lei, Ergueu-se o homem que os deuses veem. [Coda Final – sustentada] Curva-te, norte, ao verbo do senhor. Por sangue e fado herdou o clamor. Aos deuses velhos jurou guardar: Do caos ao trono — nasceu para reinar. (eco final) …nasceu para reinar. [Outro]

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