Dois horizontes - Machado de Assis

9/8/2025Aria s1
Dois horizontes fecham nossas vidas ! a saudade.            Do que não há de voltar;       A esperança.            Dos tempos que hão de chegar;            No presente, — sempre escuro, —            Vive a alma ambiciosa.            Na ilusão sensual.            Do passado e do futuro.            Os doces brincos da infância.            Sob as asas maternais,            O voo das andorinhas,            A onda viva e os rosais;            O gozo do amor, sonhado.            Num olhar profundo e ardente,            Tal é na hora presente.            O horizonte do passado.            Ou ambição de grandeza.            Que no espírito calou,            Desejo de amor sincero.            Que o coração não gozou;            Ou um viver calmo e puro.            À alma convalescente,            Tal é na hora presente.            O horizonte do futuro.            No breve correr dos dias.            Sob o azul do céu, tais são.            Limites no mar da vida:            Saudade ou aspiração;            Ao nosso espírito ardente,            Na avidez do bem sonhado,            Nunca o presente é passado,            Nunca o futuro é presente.            Que cismas, homem? – Perdido            No mar das recordações,            Escuto um eco sentido.            Das passadas ilusões.            Que buscas, homem? – Procuro,            Através da imensidão,            Ler a doce realidade.            Das ilusões do futuro.